Como é um texto em que conto sobre a minha história nesta etapa da vida, não fiz nenhuma leitura de artigos científicos e outros textos sobre o tema.
Alguns aprendizados com a gravidez
Engravidar após os 35 anos não é o fim do mundo. Isso mesmo. Estou terminando o oitavo mês de gestação e não tive nenhuma complicação na gravidez. Tenho hábitos de alimentação saudável e pratico atividade física antes de engravidar. A médica restringiu a atividade física para a hidroginástica a critério dela e interrompi a musculação e aderi a essa nova modalidade. Não é a minha preferida, mas já ajuda a controlar o peso, manter boa a circulação sanguínea, evitando ou diminuindo os inchaços (eu ainda não fiquei inchada) e não poderia deixar de citar o bem estar físico e mental, já que só tenho um pouco de dor nas costas quando me esforço mais ou quando fico muito tempo em pé. Mas nada como repousar durante uma hora para me sentir revigorada novamente.
Fonte: Imagem do google
A tal da estabilidade financeira, algo tão disseminado e almejado pela maioria das mulheres nem sempre é alcançada. Apesar de ter uma graduação, fiquei grávida quando estava desempregada há um ano e dez meses. Não tenho uma agenda cheia de clientes e o saldo da minha conta bancária também não é de alguém "bem sucedido" na vida. Se você pensa que isso me deixou desesperada, se enganou, porque a primeira coisa que pensei foi em ter uma gestação tranquila sem os desafios nem sempre agradáveis que quem trabalha fora de casa conhece bem. E não são poucos.
Posso me permitir descansar quando percebo que estou esgotada. Outro motivador é ter consciência de que o necessário nunca nos faltou e a ajuda da família foi e tem sido fundamental.
Eu aprendi a viver apenas com o necessário e a refletir sobre a real necessidade antes de comprar qualquer mercadoria. A chegada do meu pequeno Raul tem me feito melhorar ainda mais no que diz respeito ao controle de gastos. Tanto que ao fazer o seu enxoval, eu e meu esposo decidimos escolher o que é necessário para uma criança e eliminamos artigos que teriam mais como função decorar para receber elogios dos possíveis visitantes do que necessariamente suprir as necessidades da criança. Deixo claro que não sou contra quem fez, deseja ou está fazendo uma super decoração no quarto do bebê, mas dentro da nossa realidade, decidimos que poderíamos oferecer o melhor para o Raul e sem ter gastos exorbitantes. E, de fato, não falta nada para o nosso filho.
Outro ponto importante é a assertividade para expressar o meu ponto de vista sem ofender as pessoas.
Desde o início da gravidez não deixei de fazer minhas tarefas na casa e se antes já incluia meu esposo, agora ele está ainda mais inserido. Era e ainda é frequente pessoas da família se oferecerem para fazer as tarefas domésticas apresentando a gravidez e o fato de meu esposo trabalhar fora como argumentos, que fiz questão de mostrar que não são motivos coerentes para que outras pessoas assumam nossas responsabilidades.
Foi necessário eu esclarecer que minha médica não me proibiu de absolutamente nada, que minha gravidez não é de risco e que as atividades domésticas podem e devem ser realizadas por quem vive na casa, exceto em caso de doença.
Sabe o que isso tem a ver com maternagem e paternagem, de forma indireta?
A "desconstrução" de papeis direcionados ao gênero feminino e masculino.Aceitar ajuda é importante, mas quando necessária e desde que quem esteja ajudando esteja ciente de que é um auxílio temporário e que seu papel é ajudar o casal e nunca apenas a mulher. Se eu tivesse deixado as mulheres da família assumirem as tarefas da minha casa, poderia ser uma forma de reforçar ainda mais a crença de que tais tarefas são destinadas apenas às mulheres e mesmo sem querer, eu estaria excluindo o meu esposo da nossa nova rotina.
Fonte: Imagem do google
Ele me acompanha em todas as consultas e exames, o que não é possível para muitos homens devido à carga horária de trabalho, nós fazemos juntos as tarefas de casa (já fazíamos antes, mas agora ele faz mais coisas) e ele tem a oportunidade de conhecer algumas limitações que ocorrem no decorrer da gravidez. Também é uma forma de construir um modelo de família onde os papeis são compartilhados antes do nascimento da criança, o que contribui para que ele possa se apropriar do papel de pai cuidador e empoderado e não aquele que só dá uma ajuda porque as mulheres da família, e até mesmo a esposa o excluem do papel protagonista de pai. Deixei meu esposo participar desde a escolha do nome do bebê até a decoração do quarto, que apesar de singela, não ficou menos bonita. Aliás, ele criou e executou a decoração.
Fonte: Imagem do google
Uma vez, estávamos assistindo a um programa na Cultura, cujo nome é "Papo de mãe". Ele olhou para mim, perguntou e argumentou: Por que papo de mãe? Isso é excluir. É papo de pai também. Eu estou aqui assistindo e interessado. Achei um questionamento coerente porque apesar de termos alguns padrões de comportamentos familiares machistas, a sociedade mudou muito e as famílias estão aos poucos mudando, e apesar de gostar do programa, o nome representa um retrocesso (eu ainda vou sugerir mudança do nome para a emissora).
Não quero passar a imagem do casal perfeito porque não somos. Nós temos qualidades e muitos defeitos. Eu também quero deixar claro que não é fácil desconstruir padrões de comportamentos que foram aprendidos na infância (isso ainda é motivo para discutirmos algumas vezes), pois meu esposo foi apresentado às tarefas domésticas apenas quando nos casamos, mas se ele está se propondo a mudar, já é um passo para que possamos mostrar ao Raul que fazer as tarefas da casa e cuidar dos filhos não é coisa só de mulher e que faz parte do processo de gestar em família.
Janaina Muniz
CRP: 06/107044



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